Por décadas, o cigarro foi associado ao status e ao sucesso social. O pneumologista Dr. Leonardo Luiz da Silva, em entrevista ao programa Viva Saúde Unimed Tubarão, destacou que “os cigarros tradicionais faziam parte da cultura, e quem não fumava muitas vezes não era bem visto”. Essa percepção contribuiu para a ampla aceitação do tabagismo, impulsionada por estratégias da indústria do tabaco que associavam o cigarro ao estilo de vida saudável e vitorioso.
Com o avanço da ciência, os prejuízos do tabagismo ficaram evidentes. “Os malefícios do cigarro não aparecem do dia para a noite, mas com o tempo os danos são revelados”, explica o Dr. Leonardo. Inicialmente, os governos demoraram a reagir, pois o cigarro era uma fonte de arrecadação de impostos. No entanto, hoje se sabe que, para cada real arrecadado com sua venda, o sistema público de saúde gasta até cinco reais no tratamento de doenças causadas pelo tabagismo.
As mudanças nas leis ao longo dos anos ajudaram a reduzir o consumo de cigarro no Brasil. O país tem uma das legislações mais rigorosas contra o tabagismo no mundo, proibindo fumar em locais fechados e restringindo a propaganda de cigarro. “Se pensarmos há 30 anos, fumar em aviões era algo comum”, comenta o médico. “Hoje, isso seria inaceitável. ” Essa transformação cultural contribuiu para a queda do número de fumantes e reforçou a conscientização da população sobre os riscos do tabagismo.
Com isso, a indústria do tabaco precisou encontrar novas formas de manter o consumo. O cigarro eletrônico surgiu como alternativa, explorando brechas na regulamentação e oferecendo produtos sem cheiro aparente, tornando seu uso mais discreto. Além disso, a estratégia de marketing passou a focar nos jovens, utilizando sabores atraentes e embalagens modernas, fazendo com que o novo modelo de cigarro ganhasse força no mercado.
O novo perigo: os cigarros eletrônicos
O cigarro eletrônico, promovido inicialmente como alternativa menos prejudicial, tem se mostrado igualmente ou até mais nocivo. “A nicotina tem um forte mecanismo de recompensa no sistema nervoso, tornando o cigarro eletrônico extremamente viciante”, alerta o pneumologista.
Além da nicotina, os cigarros eletrônicos contêm metais como cobre e substâncias tóxicas. No Brasil, a legislação limita a nicotina em cigarros convencionais a 1 mg por unidade, enquanto nos cigarros eletrônicos, a concentração pode chegar a 50 mg por mililitro de líquido vaporizado, o equivalente a duas carteiras de cigarro. A vaporização também facilita a absorção da nicotina pelo organismo, ampliando seu potencial de dependência.
A atração dos jovens pelo cigarro eletrônico preocupa especialistas. “A indústria adicionou sabores variados e aromas agradáveis, tornando o produto mais acessível aos adolescentes”, afirma o Dr. Leonardo. Mesmo com a proibição da venda no Brasil, o consumo segue elevado. “A maioria dos usuários de cigarro eletrônico no Brasil tem menos de 25 anos”, destaca o pneumologista.
Conscientização como ferramenta de combate
Diante desse cenário, campanhas de conscientização são fundamentais. “Infelizmente, muitos jovens estão sendo enganados pela publicidade, que reforça a imagem de status e modernidade do cigarro eletrônico”, alerta o Dr. Leonardo. A estratégia publicitária segue o mesmo padrão das propagandas dos cigarros convencionais dos anos 70 e 80. “O objetivo continua o mesmo: vender uma ilusão de sucesso”, conclui.
A informação correta é essencial para combater essa epidemia silenciosa e proteger futuras gerações dos riscos do tabagismo.

